a cumplicidade entre duas almas...

quinta-feira, abril 27, 2006

foto: Paulo César

os primeiros fios de um sol convicto esgueiravam-se por entre cortinas coloridas
algodão doce
quando senti a tua maviosa respiração debruçada sobre meu ouvido

esbocei aquele sorriso que tantas vezes disseste teu
sim, com a covinha. com a tua covinha

ao me sentires acordado teu coração acelerou
encontrava-se bem enterrado nas minhas costas
(desejando a fusão como o meu)

o indicador da tua mão esquerda
o mesmo que dizes apontar-te o futuro
iniciou um percurso lento e meloso delineando minhas rendidas feições

arrepiei-me

a um ténue suspiro saboroso dei sustento quando o senti escondido por trás de minha orelha
era só o início
o percurso indiciava meus lábios receptivos como apeadeiro final
aos poucos a minha respiração adquiriu brilho próprio acordando preguiçosa mas fogosa

com um beijo suave e jucundo no meu submisso pescoço provocaste um despertar dos sentidos

senti-me amado

foi com um toque meloso que a tua língua deslizou do local beijado atingindo meu ouvido num percurso que me desenhou a face e que senti bem cravado na espinha

e então sussurraste como se nada mais existisse no mundo:

- És meu! Vou cuidar de ti.

nunca te revelei mas nesse momento soltei uma lágrima
a soluçar apenas consegui confessar-te:

- Amo-te mais do que a mim...

ao acordar não te encontrei
e ao voltar a adormecer foi apenas para te procurar
pobre inocente

segunda-feira, abril 24, 2006

instantes só meus

foto: José Silva Pinto


este quase nada onde vivo alimentado
para onde me levaste e lá me deixaste
é frio.
arrepia este corpo escarnecido
lembras-te quando o amor era a procura?
lembras-te quando era essa a fonte do viver?
quando de arrepio na espinha se fazia um aperto?
doce conjugar de mãos e inocentes sentidos
(senti-me tão pequenino)
beijos a voar em densos ambientes
recebidos por sorrisos tímidos e carentes

por entre a brecha de mais um cruzar de pernas
observo-te estarrecido com imperfeições perfeitas
pelas quais senti-me conquistado
aos poucos aos poucos
lembras-te quando com danças de olhares pulava a caixinha encarnada?
como me apertavas o peito, instantes só nossos...
como desejava tuas mãos a circundá-lo, instantes só meus...


com um simples recostar apartaste dos meus olhos o mundo
o mundo que te queria dar

terça-feira, abril 18, 2006

olhares prolongados

foto: JN


este azul que me saboreia numa intimidade inigualável
oferecendo-se para minha posse por breves segundos
envolve-me com sorrisos e choros
permite pintar a cumplicidade
delinear o brilho do desejo com raios madrugadores
fusão de epidermes
movimentos certeiros
nutrindo o coçar de alegrias unas, límpidas, translúcidas
devoradas minuto a minuto por um tempo

um tempo macio
incansável este tempo de movimento coxo
que nos beija com o riso da perfeição
e com palmadinha no rabo nos aponta o futuro
piscando o olho com matreirice

este azul por quem vivo na busca de mim
com cara de bebé pequenino-pequenino
sorrio quando me olhas assim

segunda-feira, abril 10, 2006


uma lágrima morreu-me nos lábios
uma lágrima que queria viva
que te queria dar
para que cuidasses como tua
na esperança de uma vida futura
viveria para ela
esta lágrima que te queria dar
para contigo chorar
e assim poder amar

brincar

beijar

flutuar

tudo por ti na perfeição do sonhar
como seria cristalina esta nossa lágrima
aquela que te queria dar
para com ela no crepúsculo te abraçar
e com nuvens brancas te segredar:
“é contigo… é contigo meu amor que meu coração vai morar.”

morreu-me nos lábios uma lágrima que te queria dar

segunda-feira, abril 03, 2006

foto: AP

Shiu
não entres por essa porta de vidro fusco
a certeza do bem querido está mais além
sentada num banquinho de madeira
mastigando beijos de alecrim
sorrindo pois será tua companheira


Shiu
não queiras a lambidela pedinte
as riscas arco-íris estão sentadas a teu lado
esperam por palavras prometidas
num aperto bem chegado ao peito
com a força das mãos consumidas

Shiu
não mordas o passo de sentido seguro
o roçar da empatia molhada está mais além
baila com doçura e desejo
sugando fantasias açucaradas
gritando com feroz traquejo


Shiu
não queiras essas gomas coloridas
o beijo redentor será de degustação eterna
encontra-se numa caixinha de papelão encarnado
lá nos confins da perfeição
com laço azul bom-bom bem apertado