os primeiros fios de um sol convicto esgueiravam-se por entre cortinas coloridas
algodão doce
quando senti a tua maviosa respiração debruçada sobre meu ouvidoesbocei aquele sorriso que tantas vezes disseste teu
sim, com a covinha. com a tua covinha
ao me sentires acordado teu coração acelerou
encontrava-se bem enterrado nas minhas costas
(desejando a fusão como o meu)
o indicador da tua mão esquerda
o mesmo que dizes apontar-te o futuro
iniciou um percurso lento e meloso delineando minhas rendidas feiçõesarrepiei-me
a um ténue suspiro saboroso dei sustento quando o senti escondido por trás de minha orelha
era só o início
o percurso indiciava meus lábios receptivos como apeadeiro final
aos poucos a minha respiração adquiriu brilho próprio acordando preguiçosa mas fogosa
com um beijo suave e jucundo no meu submisso pescoço provocaste um despertar dos sentidos
senti-me amado
foi com um toque meloso que a tua língua deslizou do local beijado atingindo meu ouvido num percurso que me desenhou a face e que senti bem cravado na espinha
e então sussurraste como se nada mais existisse no mundo:
- És meu! Vou cuidar de ti.
nunca te revelei mas nesse momento soltei uma lágrima
a soluçar apenas consegui confessar-te:
- Amo-te mais do que a mim...
ao acordar não te encontrei
e ao voltar a adormecer foi apenas para te procurar
pobre inocente