a cumplicidade entre duas almas...

terça-feira, janeiro 31, 2006

foto: Filipa Mateus

hoje esperei por ti até adormecer
chegas sempre quando já durmo
partes sempre ao acordar

não pertenço a este mundo
farto de ondulantes veias venosas
frios tratos tratados com vazios tratos
vivido por alegrias de palitar dentes
e sorriso ardente de cor púrpura
grãos de areia mecanicamente ambulantes
inoperante participação de quem prometeu vir
sinto-me perdido sem ar nem vento
sem chá nem lençóis de flanela
sou de Londres sou da Cidade da Praia
sou do Chile sou das Astúrias
sou de Coimbra sou das Índias
mas não sou daqui mundo de ti

quarta-feira, janeiro 25, 2006

saudades de ser..

Saudade de quem sou
de quem seja de quem sou
sou de quem?
de quem seja peculiar, verdadeiro, de ti
seja de quem sou serei quem seja
de quem seja sou de quem...
tu és de quem fores
mas de quem seja que seja de mim
de quem sou, quem for.. serás sempre... de mim

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Em tempos oscultei factos
fui ferido, morto como homem como ser como algum jamais o fôra. Por sentir isso, jurei!
escrevo mas antes de iniciar esta escrita... sarou!
ferida, doce e sentida, em tempos aberta agora resolvida!
cumprir tarefas, olhar novas caminhadas, descobrir outros males, puros, sem som e sem sal.
Explico
outras palavras, sós?
abrir a ferida, remexer até doer, massacre, dor provocada, provocativa, consciente... efeito sarador de outras feridas...cura!
Morre algo, coisa!
Nasce algo, coisa!
Sofre! deliberadamente, intencional e masoquista...
Mata!
Espírito! temos de sofrer para compreender que assim é.

sábado, janeiro 21, 2006

existência, ser, vida, viver

foto: Daniel Coelho
.
.
caminho nesta ténue linha que penso ser minha
a incerteza conduz-me prementemente os passos para o medo
ora ao pé-coxinho, ora com passinho de bebé
para onde me dirijo?
sinto-me remansado neste destino macilento
teias rugosas, lúgubres e diáfanas, oferecem-se sorrindo
encho o peito e grito: opah, opah, este é o meu fado!
passos, passo, passinho
para onde vou?
porque hesito?
porque vou?
passinho, passo, passos
acredito convicto na minha condição de transeunte
será contigo que quero ficar?
contigo que com ódio aprendi a gostar?
meu tempo obstinado, inquebrantável
companheiro de alma inclaudicável
contigo meu velho imberbe?

terça-feira, janeiro 10, 2006

esferovite

foto: Bruno M. Neves
esferovite!
bolinhas de esferovite!
minhas queridas bolinhas de esferovite!
canhoneado por palavras escanzeladas, despidas de amor
raiva exacerbada. mentiras descontroladas
e as minhas queridas bolinhas de esferovite a absorverem tudo isto.
meus dedos gritavam vigorosamente para o copo tenaz:
ele ama-o! ele simplesmente o ama! ele só o ama!
contos do vigário. chamas em três.
e as minhas queridas bolinhas de esferovite diziam-me, sorrindo:
tu ama-lo! tu simplesmente o amas! tu só o amas!
intrujice vagabunda. lodo espiral
minha assertividade cobarde de lágrima contida
e as minhas queridas bolinhas de esferovite comigo dançavam.
dizia-lhes baixinho:
eu amo-o! eu simplesmente o amo! eu só o amo!

sábado, janeiro 07, 2006

tarde laranja-violeta

Foto: A. Liberato
sentido perfeito
sorriso roubado
a plucritude do fruto-passarada
brilha. brilham. os olhos também
"Um english, se faz favor."
Old Jerusalem na sinfonia
harmonia atingida. tudo se conjuga
faltas tu. faltas-me
as mãos contornam o quentinho
"Ui, ui, ui, que é tão bom!"
o ronronar do gatinho trombubo entre as minhas tripas
o sol pergunta-me como estou
afaga-me o rosto
o canto do olho te trai
um fio de sol te define
salta, salta pequenino
na feira popular estás
verde é o caminho
senta-te a meu lado
sorri comigo
o fruto-passarada assim o exige
"O Joy of seeing you"
verde é o caminho

quarta-feira, janeiro 04, 2006

vivo deste quase nada
deste quase nada que chamo amor
que chamo e sinto
deste quase nada
desta alvorada
desta manhã de som e de lua
desde quase nada que amo

vivo morto de magia
deste quase nada que cheiro
que chamo

por ti

segunda-feira, janeiro 02, 2006

no novo ano, o velho sonho


Hoje sonhei contigo.
entre corpos descontrolados, inúteis, obscuros
delgada, serena mas vibrante, sorrias
estás em paz. és a paz. a minha paz.
Inatingível. serena. sorrias
coloriste-me com um olhar,

mas fui incapaz de te delinear a face.
ajoelhei-me perante a sinceridade do teu sorriso,
mas fui incapaz de te delinear a face.
por entre cotoveladas, empurrões, distracções,
manobras de diversão,
sinto o corpo no frio do chão.
Inatingível. serena. sorrias
corpos hirtos, mentes inexoráveis provocam-me angústia. cólera
choro derrubado mas não vencido.
e tu, delgada, serena mas vibrante, sorrias
Incansável, perseverante, continuo
estou próximo. quase te toco
Acordo. repetidamente acordo sem te falar,
incapaz de te delinear a face.